sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Ausência

Era uma vez uma mulher que não era uma mulher. Era um buraco móvel do tamanho de uma mulher no delicado tecido da realidade. Seu charme estava em sua ausência, que só ficava clara quando ela estava no recinto. Vivia escondida atrás dos cabelos. Quando as pessoas conversavam perto dela, fazia pequenos comentários afiados, rápidos demais pra mudar o rumo da conversa, apenas longos o suficiente para os outros perceberem que ela deveria estar lá, mas não estava.

Colocado desta forma, pode parecer triste, mas não era. Ela não pairava como uma sombra, nem era um fantasma no recinto. Ela era mais Yin do que vazio. A completitude justa para todas as pessoas tão cheias de vida com quem andava. Não há muito como explicar, num mundo tão cheio de pessoas prontas a tudo para parecerem felizes. O fato é que a mulher ausente parecia feliz consigo mesma, e se alguém duvidava ou não, ela não dava a mínima.

Conto tudo isso por vangloria. Defeito feio, eu sei. Mas o fato é que eu fiz a mulher ausente sorrir. Não o sorriso condescendente, de amigos que riem por camaradagem de uma piada fraca. Por três ou talvez quatro segundos, a mulher ausente estava lá, na minha frente, fora de seu buraco no universo. Deve ter sido algo que eu disse, e foi acidental. Gostaria de dizer o contrário, mas seria mentira. Algo raro como um fenômeno astronômico bizarro. Planetas colidem, estrelas explodem, galáxias nascem, e buracos no universo viram pessoas que realmente sorriem um sorriso agradecido e arrebatador. E eu nem pude apreciar direito, pois não esperava que fosse acontecer e durou pouco. Descontando o tempo que levou para entender o que era aquilo, digamos que eu pude olhar para a mulher ausente durante meio segundo.

Não há finais felizes aqui. Nada de juntos para sempre, ou de algum diálogo romântico que sugira vagamente o começo de algo grandioso. Ela voltou para o seu buraco, e eu para os meus comentários acidentais. Os cometas foram embora. Mas, ei, eu fiz a mulher ausente sorrir. Faz a gente pensar...

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